quinta-feira, 10 de julho de 2008

"Mas que seja infinito enquanto dure..."





"Estamos cercados pelo apelo da paixão. Lançamo-nos ao sexo em busca da paixão, ou para a esquecer, o que é sinal do mesmo desespero. Não queremos morrer sem ter vivido tudo, e o tudo é cada vez mais visível e impossível de alcançar. Acresce que demoramos mais a morrer; a velhice é tão implacável como sempre foi - com a gravidade suplementar de se ter tornado mais longa.
O infinito é a medida da eternidade humana. A ciência desfibra-nos em hormonas e compostos químicos para explicar que a paixão tem razões fisiológicas que se esgotam ao fim de dois anos de convívio (três, com sorte). Para que queremos saber tanto? Para perder o deslumbramento absoluto da primeira troca de olhares, para perder o contacto com a eternidade que só esses instantes de entrega radical nos dão a ver. Beijamo-nos e pensamos no dia em que deixaremos de nos beijar - sem reparar que o pensamento nos conduz de imediato a esse dia. Não nos entregamos para não sofrer - e que encantamento tem essa vida sem entrega? "


Inês Pedrosa, in Cronica Feminina, Única 5 de Julho 2008


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