terça-feira, 3 de julho de 2007

O Poeta


"É pelo teu rosto em que as marés passam,

pelos teus lábios em que voam gaivotas,

pelos teus dedos em que a luz perpassa,

pelos teus olhos que me traçam as rotas,


que este barco encontra o caminho,

que este dia descobre que não é tarde,

que as palavras se bebem como vinho,

e o fogo não queima quando arde.


É no que me dizes quando a noite fala,

no que perdura da manhã que se esquece,

no que é dito em tudo o que se cala,

e não precisa de ser dito quando amanhece.


Pode ser o amor tantas vezes sentido,

ou só aquilo que vive no coração,

pode ser o que pensava ter esquecido,

e regressa agora pela tua mão.


Quantas vezes já foi primavera,

e logo aí as flores morreram:

até ao dia em que nada ficou como era,

e todas as folhas mortas reverdeceram"


in A a Z, Nuno Júdice

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